Pedro Gonçalves é um jovem de Cascais, passou pelo AJ Salesiana e pelo GDS Cascais, agora num momento dificil do seu clube, Cascais, decidiu deixar os patins ainda que seja muito jovem.
Sem esconder nada, respondeu a algumas perguntas do nosso blog.
Como
nasceu a paixão pelo Hóquei em Patins?
Olá
Tiago. É muito engraçado falares nisso porque de facto o hóquei não foi a minha
primeira opção. Na altura em que comecei a fazer desporto federado tinha 5 anos
e andava numa “pré-escola” em que todos iam para o futebol. Eu decidi
experimentar e depois de um ano em que percebi que não tinha jeitinho nenhum
para aquilo, acabei por embarcar na aventura do hóquei em patins. Aos 6 anos
entrei para o 1º Ciclo e conheci pessoas como o Marco Gatinho, o Rodrigo
Murteira, o Luís Gato ou o André Pires e acabei por embarcar com todos eles
nesta aventura. Depois de um ano como jogador, decidi ser Guarda-Redes e desde
o primeiro momento em que calcei os patins que fiquei totalmente apaixonado
pela modalidade. Sempre a vivi com muita intensidade, sempre foi uma prioridade
e hoje sinto-me orgulhoso do pouco que alcancei, à minha maneira.
Passou
a sua formação entre o GDS Cascais e a AJ Salesiana, quais os momentos que
recorda nestes clubes?
Bom,
foram duas vivências completamente diferentes. No Cascais passei uma grande
infância, fiz amigos para a vida inteira com quem ainda tive o prazer de voltar
a jogar recentemente. Joguei no épico Dramático de Cascais que infelizmente
demoliram, mas os meus amigos de infância ao lerem isto vão lembrar-se dos
momentos inesquecíveis que passámos naquele pavilhão. Depois, é inegável que o
momento alto foi quando fomos Campeões Nacionais de Infantis B (actuais
Escolares), título que muitos desvalorizam mas que não deixa de ser carregado
de mérito e um marco histórico no clube. Ainda no Cascais tive a honra de ser
treinado por pessoas como o Tony, o Tiquinho, o Carlos Cruz, o Isqueiro, o
Diogo ou o António Fidalgo e lembro-me de todos eles duma forma muito especial.
Saí para a Salesiana quando era Iniciado e dei o salto que precisava. Nunca
tinha sido um guarda-redes com grande destaque, sempre tinha sido um pouco
empurrado para o banco. Na Salesiana tive a minha oportunidade e conheci um
treinador que apostou em mim duma forma muito forte, o Pedro Fernandes Simões e
é com a camisola da Salesiana que recordo as minhas melhores exibições. Apesar
de ter tido alguns “acidentes de percurso” neste clube, porque de facto não é
um clube fácil de entender, fiz grandes amizades que ainda hoje mantenho
(Bernardo Santos, Bernardo Farinha, entre muitos outros), passei por grandes
balneários, trabalhei com grandes treinadores e conheci grandes dirigentes.
Depois voltei para o Cascais já como Junior e tive dois anos inesquecíveis,
apesar de ter encontrado um Cascais totalmente novo que ao início me deslumbrou
mas a longo prazo fez-me ter muitas saudades do velhinho Dramático, na altura
em que era tão simples ser feliz a jogar hóquei no Cascais. Voltei a jogar com
grandes amigos, fui capitão de equipa e voltámos a colocar o Cascais nos
Nacionais. Fiz parte do melhor balneário que já conheci e tive o prazer de
conhecer miúdos com muito valor como o Ricardo Machado ou o Simão Lage, bem
como todos os outros Juvenis, os quais ainda acompanho e guardo algum orgulho
em relação ao que eles são porque sei que os ajudei a crescer sempre que
integravam os trabalhos da equipa Junior. Trabalhei com pessoas como o Hugo
Gaidão ou o Paulo Santos, que ainda me deram a oportunidade de jogar como
Sénior na época passada, num jogo em Turquel contra o Paço de Arcos. Enfim,
penso que digo tudo de uma forma muito resumida, mas recordo com muito orgulho
os 14 anos que passei a jogar hóquei. Acima de tudo, sinto que deixei a minha
marca e que todos aqueles que eu recordo da minha carreira, certamente também
se recordam de mim de uma forma muito especial.
Chegou
a altura da passagem para sénior e decidiu abandonar a competição como jogador,
quais os motivos dessa decisão?
Não
foi bem uma decisão Tiago, foi mais uma conjuntura de aspectos que me levaram a
tomar essa decisão. Continuar no Cascais a jogar foi sempre uma prioridade, mas
a instabilidade que se viveu e a forma extremamente incompetente como a
direcção geriu a situação acabou por me fazer esquecer essa hipótese. Nunca
houve uma comunicação oficial da direcção para os jogadores juniores sobre qual
seria o seu futuro. Em vez de nos dizerem logo que estávamos dispensados,
mantiveram a nossa esperança acesa até ao final de Julho, até que percebemos
que o hóquei Sénior ia acabar. Na altura em que percebemos isso já estava muito
complicado “safarmo-nos” fosse onde fosse. Cheguei a ter um convite para
continuar a jogar que considerei verdadeiramente mas acabou por se revelar incompatível
com a vida académica. É com tristeza que acabo por não experimentar ser jogador
Sénior. Penso que merecia isso, pela dedicação que dei a esta modalidade
durante tantos anos. Mas continuo ligado à modalidade e isso deixa-me
deliciado.
Como
ex-jogador do GDS Cascais, como viu a desistência da equipa do Cascais?
Vi
duma forma muito triste Tiago. Quem me conhece sabe que quando me perguntam
qual é o meu clube, eu não respondo que é o Benfica, o Porto ou o Sporting. O
meu clube é o Cascais e ver o meu clube nas páginas dos jornais pelas
ocorrências vergonhosas que se sucederam deixou-me desolado. Achei uma falta de
respeito para com a comunidade hoquista do clube, para com a história do clube
e o trabalho que se tinha feito nos últimos anos. O problema do Cascais é que
toda a gente tem medo de meter a “boca no trombone”. Se o Cascais ainda
continua com o mínimo de dignidade e com a mínima esperança de volta a ter
hóquei Sénior o deve a homens como o Manuel Rebelo, que nunca deixou de dar o
corpo às balas e que ainda tentaram que fosse o bode expiatório de toda a
situação. Quando a equipa subiu à 1ª Divisão a direcção só se “pavoneava” e
partilhava o sucesso conseguido, publicitando-o como um sucesso que começou na
direcção. Quando começaram os problemas e começou a faltar o dinheiro, aí a
porca torceu o rabo e o hóquei de repente deixou de ser “rentável” e
“saudável”. O pesadelo da direcção foi que assim que começou o campeonato,
começaram a perceber que tinham prometido demasiados mundos e demasiados fundos
a demasiada gente e todos passaram a querer a despromoção, mas depois viram que
até tinham uma equipa jeitosa e surgiu a manutenção. O Presidente do Cascais, o
Sr. Luís Rocha Ferreira, mente com quantos dentes tem na boca por diversas
vezes e é esse o grande problema daquele clube. Em Julho houve uma
assembleia-geral e ficou escrito em acta que a equipa se iria inscrever na 1ª
Divisão e tentar de tudo para se arranjar um plantel sustentável até Outubro,
que incluísse também alguns jogadores Juniores. No final, não se inscreveram,
ou seja, a direcção desrespeitou algo que registou em acta oficial. O problema
do Cascais é que a direcção é composta por 7 ou 8 “pavões” e nenhum deles gosta
do hóquei. Foi orquestrada uma conspiração para deitar abaixo a modalidade
naquele clube, orquestração essa que partiu também de responsáveis de outras
modalidades. Continuo a ter o coração verde, mas é nesta altura um verde muito
esbatido. Foi-me garantido a mim em plena assembleia-geral que a direcção nunca
soube do projecto “Dramático Cascais TV”. Aqui só me apetece rir, penso que
toda a comunidade hoquista se lembra desse projecto. Se o Cascais tivesse mais
dimensão, esta direcção já estava na rua. Depois disto, só mesmo a demissão e
apelo a todos os meus consócios que se desloquem às urnas no próximo ano para
votar contra este grupinho de músicos que só toca para o lado que lhes convém.
Ainda assim, sou do Cascais para sempre e espero um dia voltar a este grande
clube. É para mim inesquecível aquilo que a equipa conduzida pelo Hugo Gaidão
fez pelo clube e todos os momentos que passámos a acompanhar a equipa, tanto no
ano da subida, como no ano passado na 1ª Divisão. Mas de facto, pensar que tudo
o que gritámos pela equipa durante o ano acabou por se revelar inútil, deixa-me
muito triste. Andaram a brincar com o tempo e a ambição das pessoas.
Simplesmente não se faz.
Acha
que em Portugal existe muito pouco apoio dos clubes na fase de transição para o
escalão sénior?
Penso
que tanto os clubes como os jogadores se vêm um pouco aflitos quando têm de
fazer essa transição. É claro que há muitas excepções, mas em geral, uma
mudança de clube nestes escalões é muito cara e muitas vezes há transferências
e projectos que não se concretizam porque não há fundos suficientes. Acho que
os jogadores que chegam ao último ano de Junior depois de 14 ou 15 anos a
praticar a modalidade deviam ter um apoio mais activo por parte das associações
e da federação, porque nesses anos houve um enorme investimento incalculável a
nível pessoal e financeiro na modalidade, e desde já agradeço à minha família e
em especial aos meus pais que foram incansáveis e me acompanharam para todo o
lado, do que fui e sou no hóquei devo muito a eles. Qualquer jogador tem o
sonho de ser Sénior e na “hora da verdade” não deve estar sozinho a realizar
essa transição. Vivi isso na pele neste defeso e testemunhei o desespero de
muitos colegas que adorariam continuar na modalidade e não podem. Acho que os
responsáveis da modalidade deviam apoiar estes atletas e não os deixar
esquecidos e perdidos de uma época para a outra. Parece que para umas coisas
somos um por todos e todos por um e que para outras aqueles que deveriam ser os
primeiros a representar os “todos” se esquecem de alguns que sozinhos
representam apenas “um”.
Acaba
de “abraçar” uma nova aventura, é treinador na formação do Parede FC, quais os
motivos de entrar nesse projecto?
Em
primeiro lugar, já há muito tempo que ambicionava ser treinador. O Presidente
do Parede António Marques deu-me essa hipótese e eu não demorei muito a dizer
que sim. Sempre gostei de ensinar e sempre gostei que ouvissem o que tenho para
dizer. Passar o que sei para miúdos que estão a crescer e fazer parte do
processo de crescimento deles é para mim uma honra e um contínuo desafio. Quem
jogou comigo ou contra mim sabe que sempre vivi o hóquei duma forma muito
intensa e dedicada e espero que esta minha aventura como treinador me permita
continuar a viver a modalidade dessa forma por muitos e bons anos. Em relação
ao Parede, fui desde logo informado que eram duas equipas que iriam exigir
muito trabalho e que representavam um enorme desafio e aí pensei “óptimo, o que
é que eu poderia querer mais?”. Nem que não soubessem patinar, como eu costumo
dizer: “são os meus putos e estou com eles até ao fim”. Está a correr muito
bem, o feedback que recebi até agora foi bom e desde já agradeço a pessoas como
o José Carlos Gaspar, o Hugo Gaidão, o Tiquinho, o Filipe Félix, o Luís Duarte
ou o António Pinto (Toni) pelos conselhos que me deram enquanto me preparei
para esta nova aventura. Quanto a mim, fui muito bem recebido, deram-me boas
condições para trabalhar e não me podia sentir mais realizado.
Em
termos de competição, onde quer levar os seus miúdos?
Não
posso pensar nisso. Em primeiro lugar estão eles, os atletas. Eles são o meu
principal objectivo competitivo. Citando o enorme António Pinto (Toni), “a
minha vitória vai ser quando lá para Março ou Abril olhar para um miúdo e
pensar: sim senhor, grande evolução.” Dando a minha visão principiante desse
aspecto, acho que na altura em que eu puder pensar em ganhar alguma coisa, esse
sentimento virá naturalmente e eu conseguirei perceber que tenho uma equipa que
até pode ser que consiga navegar por mares mais altos. Para já, só quero que a
minha passagem pela vida destes Escolares e Infantis seja marcante e contribua
para o sucesso deles na modalidade. Tenho como objectivo que eles aprendam o
máximo possível e se esforcem no limite em todos os treinos e jogos. Que ganhem
a paixão que eu tenho pela modalidade e que a defendam como eu sempre defendi.
O resto vem por acréscimo.
Ser
treinador de uma equipa sénior no futuro é um objectivo?
Ainda
não pensei nisso, mas é claro que qualquer treinador deverá ter essa ambição.
No entanto, está certamente muito longe de acontecer. Tenho muito para aprender
e crescer, muitos campeonatos jovens para conhecer e muitos atletas para gerir.
Na minha opinião é preciso um nível de maturação e uma grande bagagem para
conduzir uma equipa Sénior de forma eficaz e eu ainda estou longe de ter tudo
isso. No entanto, é algo que certamente fará parte dos meus planos a (muito)
longo prazo, se conseguir continuar como treinador de hóquei em patins.
É
sabido que faz parte do projecto da APL TV, é difícil conciliar os estudos,
agora os treinos na Parede e ainda este projecto da APL TV?
É
sempre difícil conciliar tudo, mas desde os 15 anos que trabalho, estudo e jogo
hóquei e sempre fui minimamente bem sucedido em tudo. É uma questão de
motivação, de paixão e de gerir bem o tempo que se tem. O projecto APLisboa TV
é um projecto com muita ambição que este ano vai alargar o seu espaço de
transmissões e apresentar ainda mais novidades. Vai evoluindo a seu tempo e com
o seu ritmo. Vai ocupar algum tempo até porque eu não sou apenas jornalista mas
também um dos coordenadores do projecto. Mas é algo que faço com muita paixão e
dedicação e que me permite continuar a “brincar” de uma forma muita séria com a
arte de comunicar e de fazer jornalismo, que é uma grande paixão que pretendo
profissionalizar no futuro. Além disso o feedback que nos têm dado, tanto da
parte da APL como da parte dos espectadores, tem sido muito bom. Certo dia
houve uma pessoa que me abordou num pavilhão, porque tinha reconhecido a minha
voz. Cumprimentou-me duma forma muito sentida e felicitou-me pelo meu trabalho.
São momentos como esses que me fazem ter vontade de continuar a abraçar estes
projectos. A conciliação de tudo conseguir-se-á fazer certamente, com maior ou
menor dificuldade.
Portugal
está no Campeonato do Mundo de Sub-20 em Barcelos e vai estar com a selecção A
em San Juan também no Campeonato do Mundo, o que podem fazer estes dois
conjuntos por Portugal?
Todos
estes conjuntos fazem muito por Portugal todos os anos, mas parece que só
alguns reconhecem esses esforços. A selecção nacional de futebol sub-20 foi
recentemente condecorada pelo Presidente da República por ter estado na final
do Campeonato do Mundo da categoria. Por esta ordem ideias, as nossas selecções
era condecoradas todos os anos. Ainda assim e respondendo directamente à tua
pergunta, penso que a selecção de sub-20 será aquela que tem melhores condições
para vencer o campeonato. Joguei contra alguns dos jogadores que estão nessa
selecção e sei o que eles valem e do que são capazes de fazer. Se houver
enchentes em Barcelos como houve na estreia frente à selecção angolana, penso
que voltaremos a ser campeões do mundo. A selecção A tem um grande grupo,
jogadores que representam um grupo de grandes executantes. Ainda assim,
infelizmente penso que voltaremos a fracassar nos derradeiros jogos. A
Argentina, a Itália e a Espanha são sempre grandes ameaças. Mas tenho muita fé
nessa selecção e espero que tragam o caneco directamente de San Juán para
Portugal. Independentemente de qualquer previsão, estarei em frente à televisão
a ver os jogos e a festejar os golos como não festejo a ver mais nenhuma
equipa.
Para
terminar, quer deixar alguma mensagem?
Sim,
queria felicitar-te pelo teu trabalho Tiago. Com o teu ritmo e à tua maneira
vais fazendo o que podes pela modalidade, sem entrar em grandes polémicas, demonstrando
que só é preciso um pouco de dedicação para se ser parte integrante deste
autêntico espectáculo. Muito obrigado pelo desafio que lançaste para responder
a estas perguntas, é sempre um prazer!
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