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sábado, 16 de agosto de 2014

CARLOS SILVA E O TEMPO NO BENFICA: “”EMPURRARAM-ME” PARA FORA DO BENFICA”

O guardião Carlos Silva vai ser mais um emigrante do hóquei em patins português  ainda muito jovem esteve no Parede FC e no Oeiras, mas foi em Paço de Arcos que se mostrou verdadeiramente ao hóquei em patins, no CD Paço de Arcos passou 13 épocas, passou uma época por empréstimo no seu primeiro ano de sénior no Alenquer, o ponto mais alto da sua carreira foi no SL Benfica onde esteve seis anos.

Corria o ano de 1989 e ainda miúdo Carlos Silva apareceu no Parede onde esteve duas épocas, depois seguiu para o Oeiras onde esteve também duas temporadas, em 1993 chegou a Paço de Arcos onde fez verdadeiramente a sua formação hoquista, em 2002 foi emprestado ao Alenquer naquela que era a sua primeira época como sénior voltando ao Casa Blanca no ano seguinte.

Em 2004 Carlos Silva chegou ao SL Benfica onde esteve durante seis temporadas de águia ao peito, Carlos viria mesmo a regressar a Paço de Arcos onde permaneceu até ao final da época passada, viajando agora para à Suíça para representar os suíços do Basel.

O Besthoquei esteve com o guarda-redes português, Carlos Silva respondeu a varias questões sobre a sua carreira e sobre a sua nova aposta na Suíça.

O Carlos teve o ponto alto da sua carreira nos seis anos que passou pelo Benfica, que momentos recorda dessa longa passagem pela Luz?
Da minha passagem pelo Benfica só tenho boas recordações. Foi um orgulho jogar num clube como o Benfica, onde passei momentos muito bons e outros não tão bons. Recordo momentos, colegas e adeptos que me marcaram e que me enriqueceram profissional e pessoalmente.

Fica um sabor amargo ao completar cinco época num clube como o Benfica e não conquistar um campeonato nacional?
Claro que fica. Quem joga no Benfica joga sempre para ser campeão. Nos seis anos que lá joguei, muitas vezes estivemos perto de o conseguir, mas faltou sempre o 'quase'. E esse 'quase' faz toda a diferença. E na história ficam os campeões, e não os segundos ou terceiros. Portanto, é inevitável dizer que quando penso que joguei 6 anos no Benfica e nunca consegui ser campeão, existe um sentimento de frustração. Mas, por outro lado, consegui absorver as coisas boas que essa experiência me deu e crescer com isso. A vida é uma aprendizagem constante...estamos sempre a aprender!

Teve um ano em Alenquer na época 2002-2003, como recorda esse ano em Alenquer?
Fui para o Alenquer no meu primeiro ano de sénior. O guarda-redes da equipa do Paço de Arcos era o João Miguel, uma referência para mim desde então, e o clube e eu achámos que a melhor opção para mim era sair por empréstimo para rodar um ano e ganhar experiência competitiva de 1^ divisão. A nível colectivo a época correu mal, pois descemos de divisão e atravessámos uma fase conturbada do clube, numa época em que tivemos 3 treinadores. Mas a nível pessoal foi uma experiência enriquecedora. Com 19 anos joguei ao mais alto nível e ganhei andamento de 1ª divisão. Nesta fase da minha carreira, recordo um treinador que me ajudou muito. Foi o Costa Duarte (actual treinador da Juv. Salesiana), que desde que entrou no clube apostou e acreditou em mim. Foi uma pessoa muito importante para mim, que me deu muita força e que me ajudou muito. Até hoje, passados 12 anos, não esqueço a importância que ele teve na minha carreira.
Regressou a Paço de Arcos em 2010 onde esteve até agora vindo do Benfica, que balanço faz destes anos no Paço de Arcos?
Regressei a Paço de Arcos, 6 anos depois de sair. Regressei porque acharam que eu já não servia para o Benfica e 'empurraram-me' para fora do Benfica. A expressão é literalmente esta. O meu sentimento na altura foi o de que queria acabar com a minha carreira. Mas Deus escreve direito por linhas tortas, e hoje estou aqui. Só Deus e a minha família sabem o que passei no final de 2010 e aquilo que me fizeram. Não o desejo a ninguém. Mas as pessoas passam e os clubes ficam, e o Benfica está acima de tudo e de todos. Regressei há minha casa, pelas mãos do presidente da altura, José Silveira, e do treinador, Paulo Garrido, que fizeram tudo para que eu regressasse a Paço de Arcos. Fui para à 2ª divisão, sem qualquer problema, pois sabia que ia dar um passo atrás, mas que depois iria dar dois em frente. Subimos de divisão em 2011 e recolocámos o clube onde ele deve estar, que é entre os melhores. Depois de anos de 'sobe e desce', o Paço de Arcos 'assentou' na 1ª divisão. Penso que o balanço é muito positivo no final destes 4 anos. Com jogadores identificados com o clube, a grande maioria formados lá, com maior ou menor dificuldade, atingimos sempre os objectivos finais. O Paço de Arcos é hoje, novamente, respeitado em cada ringue que vai jogar e cada vez mais temido em sua casa. Penso que esse o maior sinal de que o balanço é muito positivo

Nestas duas últimas épocas o Carlos Silva realizou épocas de grande qualidade, sentiu que era possível ser chamado a seleção face às exibições que realizou?
Não, nunca o senti. A minha ida à selecção novamente não está dependente das minhas exibições, mas sim de questões pessoais. Não tenho dúvidas de que poderia ser o GR português menos batido do campeonato e até ser campeão nacional, que não iria ser chamado à selecção nacional. Tenho 32 anos e as minhas esperanças de voltar a representar a selecção nacional já não existem, pelo menos enquanto a actual direcção técnica nacional estiver à frente da Federação. Admito que na época passada, na altura do Torneio de Montreux, face ao momento desportivo que atravessava, tive essa esperança. Não sendo chamado nessa altura, percebi que não seria mais. Hoje, já nem penso nisso. Trabalho com o mesmo profissionalismo, seriedade e confiança, mas para evolução própria e da minha equipa. Sem pensar em selecções. Se um dia, um outro seleccionador me voltar a chamar, estarei sempre disponível.

Sente que a idade é um fator decisivo para quem pode ou não ser chamado a seleção?
Não, a idade não tem pesado nas escolhas recentes. Temos o exemplo o Luís Viana que, com 38 anos, e depois de uma época espectacular, foi à selecção. Não é por ai..

Já que estamos a falar da seleção portuguesa, como viu a prestação de Portugal no ultimo Campeonato da Europa em Alcobendas?
Não prestei muita atenção. Vi apenas, com mais atenção, o jogo frente à Suiça, pois queria ver já alguns jogadores que vou defrontar este ano. Depois, nos jogos com a Itália e com a Espanha, viajei de férias para o estrangeiro e não acompanhei os jogos.

Na opinião do Carlos Silva foram chamados os dez melhores jogadores portugueses ou os melhores jogadores portugueses da época passada?
Foram chamados os 10 melhores para quem tinha a responsabilidade de escolher. Nunca se pode agradar a gregos e troianos, e se formos fazer um referendo pelo mundo hoquistico português, haveria um sem número de opiniões e de opções diferentes. No final é fácil criticar e apontar possíveis erros. Eu, se calhar, convocaria, ou não, um ou outro jogador diferente. Mas nada me garante que o resultado seria melhor. Agora, cabe a quem decide e a quem escolhe, assumir as responsabilidades pelos resultados das suas escolhas e decisões. Depois, cabe à direcção da FPP decidir se se está a ir no caminho certo ou não. Ponto final.

O Carlos é um nome experiente no hóquei em patins, sente que se deve mudar algo no hóquei em patins em Portugal atualmente?
O que mais me preocupa, actualmente, no hóquei em patins português, é a formação. O actual sistema de mobilidade dos jovens atletas levou a uma monopolização por parte dos clubes com melhores condições. Clubes formadores, como o Paço de Arcos, HC Sintra, no caso do sul, estão a morrer ao nível de formação porque clubes como o Benfica e o Sporting, com maior poderio económico, estão a secar tudo à volta. Depois, a concorrência a nível distrital, é zero. Vemos as equipas de juvenis e de juniores do Benfica, que ganharam tudo este ano a nível da zona sul. Não tiveram concorrência nem competitividade. Chegaram à fase decisiva e falharam. Há 10/12 anos atrás, os jogadores de qualidade estavam distribuídos por várias equipas. Hoje, com a abolição das compensações aos clubes, os bons juntam-se todos numa só equipa e não existe competitividade. Isso preocupa-me em termos de futuro do hóquei, pois não sei se muitos destes miúdos, muitos campeões nacionais, estão devidamente preparados para jogar ao mais alto nível numa 1ª divisão.

Mudando de assunto, o Carlos Silva vai rumar a um novo projeto no hóquei em patins suíço, que aliciantes o levou assinar pelo Basel?
O que levou a assinar pelo RHC Basel foi um conjunto de factores, que vai desde o financeiro ao social. A nível desportivo, não tenho dúvidas de que o campeonato suiço não é mais competitivo do que o português. Mas depois há a parte financeira, que é muito melhor do que aquela que eu tenho em Portugal, e a parte de ir para um país onde as perspectivas de vida e de futuro são muito superiores às de cá. Ponderei todos os prós e todos os contras e tomei a decisão de emigrar. Será uma nova experiência para mim que eu não podia deixar passar de maneira alguma. Se tomei a opção correta, ou não, só o tempo o dirá. Este é um projecto de alguém que é apaixonado pelo hóquei em patins, que é o sr Roger Ehrle, o presidente do clube. Este senhor já foi campeão suíço por um clube alemão, o Friedlingen, onde jogaram alguns jogadores de craveira internacional, como o David Paez. Neste clube, a linha de pensamento é a mesma. Apostar em jogadores de qualidade para voltar a ser campeão suiço. Esse é um desafio que me seduz.

Que objectivos e expectativas tem para esta época que ai vem?
Primeiro, adaptar-me ao país, à língua, aos costumes e a uma realidade social e hoquistíca totalmente diferente. O grande desafio pessoal será ter o máximo rendimento desportivo enquanto consigo realizar todas estas adaptações. Atingindo os desafios pessoais estarei mais perto de conseguir atingir os colectivos, que são o de ser campeão suíço e o que fazer uma boa campanha na Taça CERS. Esse será o meu grande desafio e objectivo.

O Paço de Arcos quis renovar consigo?
Sim, fui o primeiro jogador do plantel com quem o clube quis renovar. Desde o primeiro momento, os responsáveis do clube estiveram a par da possibilidade de eu ir para a Suiça e foi uma negociação muito leal. Entenderam a minha opção e foram de uma correcção extrema em todo o momento.

Teve propostas de clubes portugueses ou estrangeiros?
Tive duas abordagens, não mais do que isso, para além da proposta formal do Paço de Arcos.

Qual o treinador com quem trabalhou o marcou mais?
Não tive um que me marcou mais, mais sim alguns que me marcaram de diferentes formas. Para além de todos os meus treinadores da formação, destaco o Paulo Batista, que foi uma pessoa que depositou uma enorme confiança em mim em todos os momentos. Foi quem me lançou nos seniores do Paço de Arcos e também na selecção nacional. Depois, destaco Luís Duarte, com quem fui campeão nacional de juvenis, de juniores e com que era o nosso treinador no Paço de Arcos em 2003/04, quando ficámos em 4º. Além de sentir que ele me ajudou a crescer enquanto homem e hoquista, sinto também que fiz parte da sua formação enquanto treinador, pois a sua primeira experiência a sério como treinador foi com a nossa equipa de juvenis. Tal como referi atrás, o Costa Duarte foi outra pessoa que me marcou, pelas razões já referidas. O Paulo Garrido foi quem me levou para o Benfica em 2004, e mais tarde para o Paço de Arcos, 2010. Foi uma pessoa que sempre acreditou em mim. O Carlos Dantas, pela sua exigência e frontalidade. Para um miúdo, como eu era na altura em que fui treinador por ele no Benfica, não é uma pessoa fácil de lidar. Mas hoje vejo que foi uma pessoa que me ajudou a crescer que contribuiu para o meu desenvolvimento. Por último, o Pedro Nunes foi muito mais do que um treinador que me marcou. É também um amigo, de quem senti uma confiança cega e que tirou o melhor de mim ao nível e rendimento. É um treinador de referência, que chegou onde chegou à custa do seu trabalho, do seu valor e da sua forma de estar, sem compadrios e jogos de interesses. É, actualmente, o melhor treinador português.

Qual é o melhor guarda-redes português de sempre?
Houve vários, cada um na sua época. Ramalhete, quem eu nunca vi jogar, ouvi dizer que foi o melhor. Mas vi José Carlos, Guilherme Silva, João Miguel, Fernando Almeida, Franklim, todos eles foram referências na sua época.

E atualmente quem é o melhor guarda-redes português?
Este ano foi o André Girão, sem dúvida. Fez uma época memorável, que culminou com a conquista do campeonato nacional. Foi o esteio da equipa do Valongo. Foi de uma regularidade extrema.

Agora na Suíça, vai continuar acompanhar o campeonato português?
Sem dúvida. E vou continuar a apoiar o meu Paço de Arcos! Desejo a maior sorte para o clube. Levo-o no coração, tal como a toda a gente. Colegas/amigos, dirigentes, colaboradores, adeptos. Todos!

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