O guardião Carlos Silva vai
ser mais um emigrante do hóquei em patins português ainda muito jovem esteve no Parede FC e no
Oeiras, mas foi em Paço de Arcos que se mostrou verdadeiramente ao hóquei em
patins, no CD Paço de Arcos passou 13 épocas, passou uma época por empréstimo
no seu primeiro ano de sénior no Alenquer, o ponto mais alto da sua carreira
foi no SL Benfica onde esteve seis anos.
Corria o ano de 1989 e ainda miúdo
Carlos Silva apareceu no Parede onde esteve duas épocas, depois seguiu para o Oeiras
onde esteve também duas temporadas, em 1993 chegou a Paço de Arcos onde fez
verdadeiramente a sua formação hoquista, em 2002 foi emprestado ao Alenquer
naquela que era a sua primeira época como sénior voltando ao Casa Blanca no ano
seguinte.
Em 2004 Carlos Silva chegou ao
SL Benfica onde esteve durante seis temporadas de águia ao peito, Carlos viria
mesmo a regressar a Paço de Arcos onde permaneceu até ao final da época passada,
viajando agora para à Suíça para representar os suíços do Basel.
O Besthoquei esteve com o guarda-redes português, Carlos Silva respondeu a varias questões sobre a sua carreira e sobre a sua nova aposta na Suíça.
O Carlos teve o ponto alto da
sua carreira nos seis anos que passou pelo Benfica, que momentos recorda dessa
longa passagem pela Luz?
Da minha passagem pelo Benfica
só tenho boas recordações. Foi um orgulho jogar num clube como o Benfica, onde
passei momentos muito bons e outros não tão bons. Recordo momentos, colegas e
adeptos que me marcaram e que me enriqueceram profissional e pessoalmente.
Fica um sabor amargo ao
completar cinco época num clube como o Benfica e não conquistar um campeonato
nacional?
Claro que fica. Quem joga no
Benfica joga sempre para ser campeão. Nos seis anos que lá joguei, muitas vezes
estivemos perto de o conseguir, mas faltou sempre o 'quase'. E esse 'quase' faz
toda a diferença. E na história ficam os campeões, e não os segundos ou
terceiros. Portanto, é inevitável dizer que quando penso que joguei 6 anos no
Benfica e nunca consegui ser campeão, existe um sentimento de frustração. Mas,
por outro lado, consegui absorver as coisas boas que essa experiência me deu e
crescer com isso. A vida é uma aprendizagem constante...estamos sempre a
aprender!
Teve um ano em Alenquer na
época 2002-2003, como recorda esse ano em Alenquer?
Fui para o Alenquer no meu
primeiro ano de sénior. O guarda-redes da equipa do Paço de Arcos era o João Miguel,
uma referência para mim desde então, e o clube e eu achámos que a melhor opção
para mim era sair por empréstimo para rodar um ano e ganhar experiência
competitiva de 1^ divisão. A nível colectivo a época correu mal, pois descemos
de divisão e atravessámos uma fase conturbada do clube, numa época em que
tivemos 3 treinadores. Mas a nível pessoal foi uma experiência enriquecedora.
Com 19 anos joguei ao mais alto nível e ganhei andamento de 1ª divisão. Nesta
fase da minha carreira, recordo um treinador que me ajudou muito. Foi o Costa
Duarte (actual treinador da Juv. Salesiana), que desde que entrou no clube
apostou e acreditou em mim. Foi uma pessoa muito importante para mim, que me
deu muita força e que me ajudou muito. Até hoje, passados 12 anos, não esqueço
a importância que ele teve na minha carreira.
Regressou a Paço de Arcos em
2010 onde esteve até agora vindo do Benfica, que balanço faz destes anos no
Paço de Arcos?
Regressei a Paço de Arcos, 6 anos
depois de sair. Regressei porque acharam que eu já não servia para o Benfica e
'empurraram-me' para fora do Benfica. A expressão é literalmente esta. O meu
sentimento na altura foi o de que queria acabar com a minha carreira. Mas Deus
escreve direito por linhas tortas, e hoje estou aqui. Só Deus e a minha família
sabem o que passei no final de 2010 e aquilo que me fizeram. Não o desejo a
ninguém. Mas as pessoas passam e os clubes ficam, e o Benfica está acima de
tudo e de todos. Regressei há minha casa, pelas mãos do presidente da altura,
José Silveira, e do treinador, Paulo Garrido, que fizeram tudo para que eu
regressasse a Paço de Arcos. Fui para à 2ª divisão, sem qualquer problema, pois
sabia que ia dar um passo atrás, mas que depois iria dar dois em frente.
Subimos de divisão em 2011 e recolocámos o clube onde ele deve estar, que é
entre os melhores. Depois de anos de 'sobe e desce', o Paço de Arcos 'assentou'
na 1ª divisão. Penso que o balanço é muito positivo no final destes 4 anos. Com
jogadores identificados com o clube, a grande maioria formados lá, com maior ou
menor dificuldade, atingimos sempre os objectivos finais. O Paço de Arcos é
hoje, novamente, respeitado em cada ringue que vai jogar e cada vez mais temido
em sua casa. Penso que esse o maior sinal de que o balanço é muito positivo
Nestas duas últimas épocas o
Carlos Silva realizou épocas de grande qualidade, sentiu que era possível ser
chamado a seleção face às exibições que realizou?
Não, nunca o senti. A minha ida à
selecção novamente não está dependente das minhas exibições, mas sim de
questões pessoais. Não tenho dúvidas de que poderia ser o GR português menos
batido do campeonato e até ser campeão nacional, que não iria ser chamado à
selecção nacional. Tenho 32 anos e as minhas esperanças de voltar a representar
a selecção nacional já não existem, pelo menos enquanto a actual direcção
técnica nacional estiver à frente da Federação. Admito que na época passada, na
altura do Torneio de Montreux, face ao momento desportivo que atravessava, tive
essa esperança. Não sendo chamado nessa altura, percebi que não seria mais.
Hoje, já nem penso nisso. Trabalho com o mesmo profissionalismo, seriedade e
confiança, mas para evolução própria e da minha equipa. Sem pensar em
selecções. Se um dia, um outro seleccionador me voltar a chamar, estarei sempre
disponível.
Sente que a idade é um fator decisivo para quem pode ou não ser chamado a seleção?
Não, a idade não tem pesado
nas escolhas recentes. Temos o exemplo o Luís Viana que, com 38 anos, e depois
de uma época espectacular, foi à selecção. Não é por ai..
Já que estamos a falar da
seleção portuguesa, como viu a prestação de Portugal no ultimo Campeonato da
Europa em Alcobendas?
Não prestei muita atenção. Vi
apenas, com mais atenção, o jogo frente à Suiça, pois queria ver já alguns
jogadores que vou defrontar este ano. Depois, nos jogos com a Itália e com a
Espanha, viajei de férias para o estrangeiro e não acompanhei os jogos.
Na opinião do Carlos Silva
foram chamados os dez melhores jogadores portugueses ou os melhores jogadores
portugueses da época passada?
Foram chamados os 10 melhores
para quem tinha a responsabilidade de escolher. Nunca se pode agradar a gregos
e troianos, e se formos fazer um referendo pelo mundo hoquistico português,
haveria um sem número de opiniões e de opções diferentes. No final é fácil
criticar e apontar possíveis erros. Eu, se calhar, convocaria, ou não, um ou
outro jogador diferente. Mas nada me garante que o resultado seria melhor.
Agora, cabe a quem decide e a quem escolhe, assumir as responsabilidades pelos
resultados das suas escolhas e decisões. Depois, cabe à direcção da FPP decidir
se se está a ir no caminho certo ou não. Ponto final.
O Carlos é um nome experiente
no hóquei em patins, sente que se deve mudar algo no hóquei em patins em
Portugal atualmente?
O que mais me preocupa,
actualmente, no hóquei em patins português, é a formação. O actual sistema de
mobilidade dos jovens atletas levou a uma monopolização por parte dos clubes
com melhores condições. Clubes formadores, como o Paço de Arcos, HC Sintra, no
caso do sul, estão a morrer ao nível de formação porque clubes como o Benfica e
o Sporting, com maior poderio económico, estão a secar tudo à volta. Depois, a
concorrência a nível distrital, é zero. Vemos as equipas de juvenis e de
juniores do Benfica, que ganharam tudo este ano a nível da zona sul. Não
tiveram concorrência nem competitividade. Chegaram à fase decisiva e falharam.
Há 10/12 anos atrás, os jogadores de qualidade estavam distribuídos por várias
equipas. Hoje, com a abolição das compensações aos clubes, os bons juntam-se
todos numa só equipa e não existe competitividade. Isso preocupa-me em termos
de futuro do hóquei, pois não sei se muitos destes miúdos, muitos campeões
nacionais, estão devidamente preparados para jogar ao mais alto nível numa 1ª divisão.
Mudando de assunto, o Carlos
Silva vai rumar a um novo projeto no hóquei em patins suíço, que aliciantes o
levou assinar pelo Basel?
O que levou a assinar pelo RHC
Basel foi um conjunto de factores, que vai desde o financeiro ao social. A
nível desportivo, não tenho dúvidas de que o campeonato suiço não é mais
competitivo do que o português. Mas depois há a parte financeira, que é muito
melhor do que aquela que eu tenho em Portugal, e a parte de ir para um país
onde as perspectivas de vida e de futuro são muito superiores às de cá.
Ponderei todos os prós e todos os contras e tomei a decisão de emigrar. Será
uma nova experiência para mim que eu não podia deixar passar de maneira alguma.
Se tomei a opção correta, ou não, só o tempo o dirá. Este é um projecto de
alguém que é apaixonado pelo hóquei em patins, que é o sr Roger Ehrle, o
presidente do clube. Este senhor já foi campeão suíço por um clube alemão, o
Friedlingen, onde jogaram alguns jogadores de craveira internacional, como o
David Paez. Neste clube, a linha de pensamento é a mesma. Apostar em jogadores
de qualidade para voltar a ser campeão suiço. Esse é um desafio que me seduz.
Que objectivos e expectativas
tem para esta época que ai vem?
Primeiro, adaptar-me ao país,
à língua, aos costumes e a uma realidade social e hoquistíca totalmente
diferente. O grande desafio pessoal será ter o máximo rendimento desportivo
enquanto consigo realizar todas estas adaptações. Atingindo os desafios
pessoais estarei mais perto de conseguir atingir os colectivos, que são o de
ser campeão suíço e o que fazer uma boa campanha na Taça CERS. Esse será o meu
grande desafio e objectivo.
O Paço de Arcos quis renovar
consigo?
Sim, fui o primeiro jogador do
plantel com quem o clube quis renovar. Desde o primeiro momento, os
responsáveis do clube estiveram a par da possibilidade de eu ir para a Suiça e
foi uma negociação muito leal. Entenderam a minha opção e foram de uma
correcção extrema em todo o momento.
Teve propostas de clubes
portugueses ou estrangeiros?
Tive duas abordagens, não mais
do que isso, para além da proposta formal do Paço de Arcos.
Qual o treinador com quem
trabalhou o marcou mais?
Não tive um que me marcou
mais, mais sim alguns que me marcaram de diferentes formas. Para além de todos
os meus treinadores da formação, destaco o Paulo Batista, que foi uma pessoa
que depositou uma enorme confiança em mim em todos os momentos. Foi quem me
lançou nos seniores do Paço de Arcos e também na selecção nacional. Depois,
destaco Luís Duarte, com quem fui campeão nacional de juvenis, de juniores e
com que era o nosso treinador no Paço de Arcos em 2003/04, quando ficámos em
4º. Além de sentir que ele me ajudou a crescer enquanto homem e hoquista, sinto
também que fiz parte da sua formação enquanto treinador, pois a sua primeira
experiência a sério como treinador foi com a nossa equipa de juvenis. Tal como
referi atrás, o Costa Duarte foi outra pessoa que me marcou, pelas razões já
referidas. O Paulo Garrido foi quem me levou para o Benfica em 2004, e mais
tarde para o Paço de Arcos, 2010. Foi uma pessoa que sempre acreditou em mim. O
Carlos Dantas, pela sua exigência e frontalidade. Para um miúdo, como eu era na
altura em que fui treinador por ele no Benfica, não é uma pessoa fácil de
lidar. Mas hoje vejo que foi uma pessoa que me ajudou a crescer que contribuiu
para o meu desenvolvimento. Por último, o Pedro Nunes foi muito mais do que um
treinador que me marcou. É também um amigo, de quem senti uma confiança cega e
que tirou o melhor de mim ao nível e rendimento. É um treinador de referência,
que chegou onde chegou à custa do seu trabalho, do seu valor e da sua forma de
estar, sem compadrios e jogos de interesses. É, actualmente, o melhor treinador
português.
Qual é o melhor guarda-redes
português de sempre?
Houve vários, cada um na sua
época. Ramalhete, quem eu nunca vi jogar, ouvi dizer que foi o melhor. Mas vi
José Carlos, Guilherme Silva, João Miguel, Fernando Almeida, Franklim, todos
eles foram referências na sua época.
E atualmente quem é o melhor
guarda-redes português?
Este ano foi o André Girão,
sem dúvida. Fez uma época memorável, que culminou com a conquista do campeonato
nacional. Foi o esteio da equipa do Valongo. Foi de uma regularidade extrema.
Agora na Suíça, vai continuar
acompanhar o campeonato português?
Sem dúvida. E vou continuar a apoiar o meu Paço de Arcos! Desejo a maior sorte para o clube. Levo-o no coração, tal como a toda a gente. Colegas/amigos, dirigentes, colaboradores, adeptos. Todos!
Sem dúvida. E vou continuar a apoiar o meu Paço de Arcos! Desejo a maior sorte para o clube. Levo-o no coração, tal como a toda a gente. Colegas/amigos, dirigentes, colaboradores, adeptos. Todos!
Sem comentários:
Enviar um comentário