Artur Pereira acaba de “pendurar”
os patins ao fim de 34 anos ao serviço do Hoquei em Patins.
O veterano que terminou a sua
carreira de jogador no GD Sesimbra cedeu uma entrevista ao nosso blog onde fez
um balanço da sua carreira.
Como
nasceu o Artur Pereira para o Hóquei em Patins?
Na
altura o Hóquei em Patins era a modalidade nº 1 do Grupo Desportivo de
Sesimbra, o pavilhão encontrava-se sempre cheio 2 horas antes dos jogos, e isso
fez que na altura maior parte dos miúdos quisessem praticar a modalidade.
Quer-nos
falar um pouco de todos os clubes por onde passou?
Comecei
no Grupo Desportivo de Sesimbra, depois passei pelo Sporting (Juniores), H.C.
Turquel, Sporting (Séniores), Benfica, Sporting de Tomar, Hóquei Clube de Sintra
e finalmente regressei novamente ao Grupo desportivo de Sesimbra, de todos eles
guardo as melhores recordações tanto dos clubes como das pessoas, onde sempre
fui bem tratado com respeito e com muito carinho.
Qual
dos clubes o marcou mais e o porquê?
Todos
me marcaram, mas tenho de destacar dois, o Grupo Desportivo de Sesimbra que é o
clube da terra onde nasci e ainda vivo, e o Sporting Clube de Portugal que é o
meu clube do coração e onde cumpri o sonho que tinha desde pequenino.
Que
balanço faz do seu percurso na modalidade?
O
balanço acaba por ser muito positivo, pratiquei a modalidade que escolhi
durante 34 anos, consegui ter um
percurso de que me posso orgulhar, representei entre outros clubes, o Sporting, o Benfica e a Selecção Nacional,
que é o sonho de qualquer desportista. Nos clubes de menor expressão fiquei
ligado a feitos únicos que irão ser recordados durante muitos anos, no H.C. Turquel consegui um 4º e um 5º lugar no Nacional da 1ª Divisão
e consequente apuramento para as competições
Europeias (marco histórico no Clube), no Sporting C. de Tomar alcancei
um 5º lugar (melhor classificação do
clube) e presença numa final-four da Taça de Portugal. Por isso saio
satisfeito pelo que fiz e pelo que dei de mim ao Hóquei em Patins.
Como
jogador, qual o jogo que lhe deu mais gozo jogar em toda a sua carreira?
Houveram
2 que me ficaram na memoria, lembro-me de uma pré eliminatória da Taça CERS,
Turquel – Viareggio, onde tínhamos perdido 4-3 em Itália e na 2ª mão vencemos
por 9-8 após grandes penalidades, a 2.30 minutos do final do prolongamento
perdíamos por 5-6 e em pouco tempo demos a volta para 8-6 e a 2 segundos do fim
deixamos os italianos igualar novamente a eliminatória, felizmente nos penaltis
marcamos 1 e os Italianos não conseguiram marcar nenhum. O outro foi nos
quartos de final da Taça, Sporting – Barcelos, onde acabamos por vencer 8-7
também nos penaltis, num jogo que ficou 7-7 no prolongamento e onde marquei 6
golos.
Qual
o jogador que o marcou mais e o porquê?
È
engraçado o meu jogador preferido ser um da minha geração, Pedro Alves, para
mim foi o melhor que vi jogar, tecnicamente muito evoluído, fisicamente muito
forte e como pessoa 5 estrelas, lembro de jogar em infantis contra o Sporting e
termos perdido 19-0 e ele ter marcado 17 golos. Penso que ainda hoje é o
jogador mais internacional da Selecção e isso quer dizer alguma coisa.
E
o treinador?
Ao
longo da carreira de um jogador existem sempre treinadores que nos marcam,
claro que aprendemos sempre um pouco com todos, mas houve um em especial que me
marcou mais que os outros, António
Livramento foi o treinador que acreditou nas minhas capacidades no meu 1º ano
de sénior, foi com quem mais aprendi tanto a nível táctico como a nível técnico
e foi quem transformou um razoável defesa/médio num bom avançado de área, penso
que o nome dispensa apresentações, infelizmente já não se encontra entre nós.
Claro que tive outros excelentes treinadores, o Jorge Vicente, Carlos Dantas,
Vítor Domingos, Luís Afonso, José Saragaço, Luís Barata, Marinho, João Campelo,
Pedro Nunes, Fernando Rosa e o Frederico, todos eles contribuíram para a minha
formação como atleta e como homem, para eles o meu sincero obrigado
Como
surgiu a ideia de ser treinador?
A
ideia de treinador já estava no sangue á muito tempo, desde muito novo que nas
férias costumava entrar em torneios de futebol de salão com equipas de miúdos,
porque sempre tive gosto por ensinar, esse gosto levou a que eu quisesse
transmitir a outros o que eu tinha aprendido, comecei pelos mais novos e por
força das circunstâncias cheguei aos Séniores onde uma situação provisória
passou a definitiva, devido às pessoas terem gostado do meu trabalho. Tomei
gosto pela função e tentei actualizar-me através dos diversos cursos dados pela
Federação. Apesar de neste momento
estar a reflectir sobre o meu futuro como treinador, sei que irei ficar sempre
ligado ao Hóquei em Patins, pois
devo isso à modalidade por tudo o que ela me deu.
Qual
o balanço que faz das épocas em que desempenhou o lugar de treinador em termos
de seniores?
Acho
que o balanço acaba por ser positivo, estive 9 épocas como treinador/jogador
apesar de saber que esta situação não é a ideal, mas acabei por fazer umas
épocas bem positivas, por exemplo a equipa teve 2 vezes perto da subida e
tivemos também uma vez perto de fazer história ao termos hipótese de levar a
equipa a uma final-four da Taça de
Portugal, o que seria a 1ª vez, infelizmente tal não aconteceu. De
realçar que nunca nos reforçamos para uma eventual subida de divisão,
praticamente lutámos sempre com a prata da casa
E
na formação, que balanço faz?
Ai
o balanço é muito positivo, conseguimos ao longo dos últimos 10 anos fazer
regressar o hóquei juvenil do Sesimbra aos bons resultados, voltamos aos
títulos Distritais e Regionais, o que não acontecia há muito tempo, todos os
anos o Sesimbra tem apurado quase todas as suas equipas para as competições
Nacionais, além de voltar mos a ter atletas Sesimbrenses nas Selecções
Nacionais.
Como
se sente ao ensinar miúdos esta linda modalidade?
Sinto
uma imensa alegria e um enorme prazer em ensinar aos mais novos tudo o que
aprendi, dá-me um gozo especial treinar camadas jovens, alias gosto mais de
treinar jovens do que seniores.
Agora
falando no seu afastamento dos rinques como jogador, é difícil jogar até esta
idade?
Não
difícil não é, e ao ver mos o número de jogadores que ainda jogam com mais de
35 anos chegamos a essa conclusão, claro que fisicamente as coisas não são
iguais, mas o resto está lá.
Quais
os principais motivos que o levaram a tomar esta decisão?
Primeiro
porque este ano tive uma lesão muscular e quando regressei foi mais difícil
entrar no ritmo, deixei de sentir aquela vontade de jogar, e também a saturação
dos últimos 9 anos na difícil tarefa de ser treinador /jogador. Por isso achei
que era altura de passar à fase de ser só treinador.
Qual
o papel que teve a sua família nesta sua longa carreira?
A
minha família teve um papel importantíssimo, sempre me incentivaram e sempre me
apoiaram, e além disso sempre compreenderam os momentos em família que tive de
abdicar para viver esta paixão pelo hóquei.
Despede-se
dos patins mas com certeza que não quer deixar a modalidade, vai continuar a
treinar tanto a nível de seniores ou mesmo escalões de formação?
Sim,
a única certeza que tenho neste momento é que enquanto puder e a saúde me
permitir irei sempre ficar ligado ao hóquei em patins, seja como treinador ou
noutra função qualquer.
Falando
agora nos momentos que o Hóquei em Patim atravessa, que diferenças nota do
hóquei de alguns anos atrás e no hóquei actual?
Ao
nível do Hóquei Nacional acho que deixamos de apostar onde éramos mais fortes,
na nossa qualidade técnica individual, passámos a tentar copiar os espanhóis,
agora maior parte das equipas têm esquemas tácticos muito rígidos, e deixam
pouco espaço para a criatividade, criatividade essa que nos fez ganhar muitos
Campeonatos Europeu e Mundiais.
Como
viu as alterações das regras?
Apesar
de estar um pouco séptico quando elas apareceram, agora sou o 1º a dizer que
estas novas regras vieram enriquecer a nossa modalidade, pois estávamos a
caminhar para um jogo mais físico como o Hóquei no Gelo, mas ao mesmo tempo
permitimos que os árbitros tivessem um maior poder de decisão, quando todos os
árbitros tiverem um critério igual, ai sim estas regras serão excelentes para a
nossa modalidade.
Gostava
de ver mais Hóquei em Patins nas televisões portuguesas?
Sim,
penso que é fundamental para voltarmos a ser uma modalidade de top, não havendo
hóquei na TV os nossos miúdos não terão como referência os grandes nomes do
nosso Hóquei, existem muitos jovens que praticam Hóquei que nunca viram um jogo
de seniores ao vivo, nem na TV, se não vêem como podem ter referências?
Para
terminar, quer deixar alguma mensagem?
Gostava
de te felicitar pelo excelente trabalho que tens feito em prol do Hóquei em
Patins, o Besthoquei já é um dos grandes blogs de Hóquei em Patins, é mais um
site de divulgação da nossa querida modalidade, eu agradeço e as pessoas do
Hóquei também.
Muito
obrigado Tiago.
Artur
Pereira
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