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quarta-feira, 6 de julho de 2011

"Sinto uma imensa alegria e um enorme prazer em ensinar"


Artur Pereira acaba de “pendurar” os patins ao fim de 34 anos ao serviço do Hoquei em Patins.

O veterano que terminou a sua carreira de jogador no GD Sesimbra cedeu uma entrevista ao nosso blog onde fez um balanço da sua carreira.

Como nasceu o Artur Pereira para o Hóquei em Patins?
Na altura o Hóquei em Patins era a modalidade nº 1 do Grupo Desportivo de Sesimbra, o pavilhão encontrava-se sempre cheio 2 horas antes dos jogos, e isso fez que na altura maior parte dos miúdos quisessem praticar a modalidade.

Quer-nos falar um pouco de todos os clubes por onde passou?
Comecei no Grupo Desportivo de Sesimbra, depois passei pelo Sporting (Juniores), H.C. Turquel, Sporting (Séniores), Benfica, Sporting de Tomar, Hóquei Clube de Sintra e finalmente regressei novamente ao Grupo desportivo de Sesimbra, de todos eles guardo as melhores recordações tanto dos clubes como das pessoas, onde sempre fui bem tratado com respeito e com muito carinho.

Qual dos clubes o marcou mais e o porquê?
Todos me marcaram, mas tenho de destacar dois, o Grupo Desportivo de Sesimbra que é o clube da terra onde nasci e ainda vivo, e o Sporting Clube de Portugal que é o meu clube do coração e onde cumpri o sonho que tinha desde pequenino.

Que balanço faz do seu percurso na modalidade?
O balanço acaba por ser muito positivo, pratiquei a modalidade que escolhi durante 34 anos, consegui ter um percurso de que me posso orgulhar, representei entre outros clubes, o Sporting, o Benfica e a Selecção Nacional, que é o sonho de qualquer desportista. Nos clubes de menor expressão fiquei ligado a feitos únicos que irão ser recordados durante muitos anos, no H.C. Turquel consegui um 4º e um 5º lugar no Nacional da 1ª Divisão e consequente apuramento para as competições Europeias (marco histórico no Clube), no Sporting C. de Tomar alcancei um 5º lugar (melhor classificação do clube) e presença numa final-four da Taça de Portugal. Por isso saio satisfeito pelo que fiz e pelo que dei de mim ao Hóquei em Patins.


Como jogador, qual o jogo que lhe deu mais gozo jogar em toda a sua carreira?
Houveram 2 que me ficaram na memoria, lembro-me de uma pré eliminatória da Taça CERS, Turquel – Viareggio, onde tínhamos perdido 4-3 em Itália e na 2ª mão vencemos por 9-8 após grandes penalidades, a 2.30 minutos do final do prolongamento perdíamos por 5-6 e em pouco tempo demos a volta para 8-6 e a 2 segundos do fim deixamos os italianos igualar novamente a eliminatória, felizmente nos penaltis marcamos 1 e os Italianos não conseguiram marcar nenhum. O outro foi nos quartos de final da Taça, Sporting – Barcelos, onde acabamos por vencer 8-7 também nos penaltis, num jogo que ficou 7-7 no prolongamento e onde marquei 6 golos.

Qual o jogador que o marcou mais e o porquê?
È engraçado o meu jogador preferido ser um da minha geração, Pedro Alves, para mim foi o melhor que vi jogar, tecnicamente muito evoluído, fisicamente muito forte e como pessoa 5 estrelas, lembro de jogar em infantis contra o Sporting e termos perdido 19-0 e ele ter marcado 17 golos. Penso que ainda hoje é o jogador mais internacional da Selecção e isso quer dizer alguma coisa.

E o treinador?
Ao longo da carreira de um jogador existem sempre treinadores que nos marcam, claro que aprendemos sempre um pouco com todos, mas houve um em especial que me marcou mais que os outros, António Livramento foi o treinador que acreditou nas minhas capacidades no meu 1º ano de sénior, foi com quem mais aprendi tanto a nível táctico como a nível técnico e foi quem transformou um razoável defesa/médio num bom avançado de área, penso que o nome dispensa apresentações, infelizmente já não se encontra entre nós. Claro que tive outros excelentes treinadores, o Jorge Vicente, Carlos Dantas, Vítor Domingos, Luís Afonso, José Saragaço, Luís Barata, Marinho, João Campelo, Pedro Nunes, Fernando Rosa e o Frederico, todos eles contribuíram para a minha formação como atleta e como homem, para eles o meu sincero obrigado

Como surgiu a ideia de ser treinador?
A ideia de treinador já estava no sangue á muito tempo, desde muito novo que nas férias costumava entrar em torneios de futebol de salão com equipas de miúdos, porque sempre tive gosto por ensinar, esse gosto levou a que eu quisesse transmitir a outros o que eu tinha aprendido, comecei pelos mais novos e por força das circunstâncias cheguei aos Séniores onde uma situação provisória passou a definitiva, devido às pessoas terem gostado do meu trabalho. Tomei gosto pela função e tentei actualizar-me através dos diversos cursos dados pela Federação. Apesar de neste momento estar a reflectir sobre o meu futuro como treinador, sei que irei ficar sempre ligado ao Hóquei em Patins, pois devo isso à modalidade por tudo o que ela me deu.


Qual o balanço que faz das épocas em que desempenhou o lugar de treinador em termos de seniores?
Acho que o balanço acaba por ser positivo, estive 9 épocas como treinador/jogador apesar de saber que esta situação não é a ideal, mas acabei por fazer umas épocas bem positivas, por exemplo a equipa teve 2 vezes perto da subida e tivemos também uma vez perto de fazer história ao termos hipótese de levar a equipa a uma final-four da Taça de Portugal, o que seria a 1ª vez, infelizmente tal não aconteceu. De realçar que nunca nos reforçamos para uma eventual subida de divisão, praticamente lutámos sempre com a prata da casa

E na formação, que balanço faz?
Ai o balanço é muito positivo, conseguimos ao longo dos últimos 10 anos fazer regressar o hóquei juvenil do Sesimbra aos bons resultados, voltamos aos títulos Distritais e Regionais, o que não acontecia há muito tempo, todos os anos o Sesimbra tem apurado quase todas as suas equipas para as competições Nacionais, além de voltar mos a ter atletas Sesimbrenses nas Selecções Nacionais.

Como se sente ao ensinar miúdos esta linda modalidade?
Sinto uma imensa alegria e um enorme prazer em ensinar aos mais novos tudo o que aprendi, dá-me um gozo especial treinar camadas jovens, alias gosto mais de treinar jovens do que seniores.

Agora falando no seu afastamento dos rinques como jogador, é difícil jogar até esta idade?
Não difícil não é, e ao ver mos o número de jogadores que ainda jogam com mais de 35 anos chegamos a essa conclusão, claro que fisicamente as coisas não são iguais, mas o resto está lá.

Quais os principais motivos que o levaram a tomar esta decisão?
Primeiro porque este ano tive uma lesão muscular e quando regressei foi mais difícil entrar no ritmo, deixei de sentir aquela vontade de jogar, e também a saturação dos últimos 9 anos na difícil tarefa de ser treinador /jogador. Por isso achei que era altura de passar à fase de ser só treinador.

Qual o papel que teve a sua família nesta sua longa carreira?
A minha família teve um papel importantíssimo, sempre me incentivaram e sempre me apoiaram, e além disso sempre compreenderam os momentos em família que tive de abdicar para viver esta paixão pelo hóquei.

Despede-se dos patins mas com certeza que não quer deixar a modalidade, vai continuar a treinar tanto a nível de seniores ou mesmo escalões de formação?
Sim, a única certeza que tenho neste momento é que enquanto puder e a saúde me permitir irei sempre ficar ligado ao hóquei em patins, seja como treinador ou noutra função qualquer.

Falando agora nos momentos que o Hóquei em Patim atravessa, que diferenças nota do hóquei de alguns anos atrás e no hóquei actual?
Ao nível do Hóquei Nacional acho que deixamos de apostar onde éramos mais fortes, na nossa qualidade técnica individual, passámos a tentar copiar os espanhóis, agora maior parte das equipas têm esquemas tácticos muito rígidos, e deixam pouco espaço para a criatividade, criatividade essa que nos fez ganhar muitos Campeonatos Europeu e Mundiais.

Como viu as alterações das regras?
Apesar de estar um pouco séptico quando elas apareceram, agora sou o 1º a dizer que estas novas regras vieram enriquecer a nossa modalidade, pois estávamos a caminhar para um jogo mais físico como o Hóquei no Gelo, mas ao mesmo tempo permitimos que os árbitros tivessem um maior poder de decisão, quando todos os árbitros tiverem um critério igual, ai sim estas regras serão excelentes para a nossa modalidade.

Gostava de ver mais Hóquei em Patins nas televisões portuguesas?
Sim, penso que é fundamental para voltarmos a ser uma modalidade de top, não havendo hóquei na TV os nossos miúdos não terão como referência os grandes nomes do nosso Hóquei, existem muitos jovens que praticam Hóquei que nunca viram um jogo de seniores ao vivo, nem na TV, se não vêem como podem ter referências?

Para terminar, quer deixar alguma mensagem?
Gostava de te felicitar pelo excelente trabalho que tens feito em prol do Hóquei em Patins, o Besthoquei já é um dos grandes blogs de Hóquei em Patins, é mais um site de divulgação da nossa querida modalidade, eu agradeço e as pessoas do Hóquei também.

Muito obrigado Tiago.

Artur Pereira

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