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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

"O Hóquei Patins faz parte da nossa cultura"

                 Em tempos de afirmação em Cascais, Pedro Nunes cedeu uma entrevista ao Besthoquei.

Para quem não conhece o Pedro Nunes, quer nos falar por que clubes já passou?
Pedro Nunes, 42 anos, Técnico nível III, Santos da Venda Nova, Hockey Club de Sintra, Porto Santo SAD, Candelária Sport Club, Paço de Arcos e agora, Dramático de Cascais.

Por esses clubes que ja passou, existe algum que o marcou de alguma forma?
Todos os clubes me marcaram. De uma ou de outra forma todos eles merecem o meu respeito. Em todos eles aprendi, graças às pessoas com quem tive o privilégio de trabalhar. Técnicos, dirigentes, Adeptos e fundamentalmente os jogadores. Aquilo que sou, muito devo aos jogadores que tive o prazer de orientar. São eles que me fazem evoluir como técnico..
Mas sem dúvida, que os clubes que mais me marcaram foram o HC Sintra e o Candelária.
No HC Sintra onde estive 12 anos, cresci e aprendi a ser treinador. Vivi momentos muito intensos. Treinei todos escalões de formação, algo que considero fundamental num processo de formação enquanto treinador, e cheguei a treinador de seniores em 1999. Foram anos fantásticos num clube extraordinário onde existia uma forte identidade de clube já que o hóquei em patins é a única modalidade no clube.
No Candelária, a minha segunda experiência como treinador profissional, onde estive 2 anos, evoluí e amadureci como treinador. Tive a oportunidade de trabalhar numa estrutura profissional com grande rigor e exigência desportiva. Senti a pressão verdadeira do que é ser treinador profissional de Hóquei em patins. Foram dois anos de grande intensidade profissional e emocional, a viver numa ilha (Pico) que quem por lá passa, jamais esquecerá. Ajudar a colocar o nome do Candelária no topo do hóquei europeu foram, sem dúvida alguma, momentos muito marcantes na minha carreira. Para além disso, conheci e trabalhei com muitos e bons jogadores que como disse há pouco, contribuíram para a minha evolução como treinador.

A época passada treinou o Paço de Arcos, qual é o balanço que faz dessa passagem por Paço de Arcos?
Não pode ser um balanço positivo já que o principal não foi alcançado. Fui para Paço de Arcos como o objectivo de evitar a descida de divisão e não o consegui. Por isso, falhei! Assumo. Qualquer treinador de hóquei patins gostaria de um dia, treinar o Paço de Arcos. Eu gostei mas não amei. Encontrei um clube a viver uma crise de identidade profunda onde a cultura e exigência desportiva eram pouco mais do que zero. A honestidade das pessoas é inquestionável mas de hóquei em patins e porque não dizê-lo de desporto, de nada percebem. A boa vontade não chega. Esperava muito mais. Jamais imaginava tal poder acontecer num clube, que considero enorme do ponto vista hoquistico. O Paço de Arcos foi uma das melhores escolas de formação do mundo e para bem do hóquei nacional, é bom que o volte a ser. Eu torço por isso e o Paço de Arcos merece.

Esta a iniciar um novo projecto, acaba de chegar ao Dramático de Cascais para desempenhar as funções de treinador da equipa sénior masculinos, o que o levou aceitar este novo desafio em Cascais?
O Hóquei. Sempre o hóquei. A minha grande paixão. Nunca tinha estado sem treinar e por isso foi algo estranho, o que senti,  nestes 3 meses. Depois porque acho que o Cascais tem uma boa equipa e que pode fazer história neste seu regresso à 1ª divisão, 25 anos depois. Ficar na 1ª divisão é o nosso objectivo. E se tal acontecer, como estou convicto, fazemos história.

Corre o rumor que o Dramático de Cascais esta a passar uma fase menos boa em relação a questões financeiras, qual a sua opinião sobre este assunto?
O Cascais vive uma crise de tesouraria. O que é bem diferente de uma crise financeira. Os dirigentes do Cascais foram de uma honestidade tremenda quando me abordaram esse assunto. Estamos identificados e em sintonia relativamente a esta matéria. Ficava mais preocupado se houvesse no Dramático de Cascais uma crise de (In)competências.

O Cascais é uma equipa recém chegada a principal divisão do Hóquei em Patins nacional, quais os objectivos que a direcção do clube lhe propôs para a sua nova equipa esta época?
Não me exigiu absolutamente nada nesse aspecto. Mas como ambicioso que sou e conhecendo os jogadores que disponho, é da mais elementar justiça que todos juntos, lutemos pela permanência da equipa na 1ª Divisão. È o mínimo que podemos exigir de nós próprios. O Dramático de Cascais e Cascais assim o merecem.

O qual o balanço que faz ao plantel que tem esta época no Cascais?
È um plantel de qualidade. Jovem mas já com alguma experiência. Tem potencial. Há que fazer dos treinos, momentos de grande atitude, seriedade e empenho. Só assim conseguiremos evoluir e mais tarde, atingir os nossos objectivos.

O seu primeiro jogo aos comandos do Cascais foi este sábado em Oliveira de Azeméis frente à Oliveirense, como viu esse jogo?
Perdemos 5-4 frente ao 1º classificado. Para história fica o resultado. Apesar da boa exibição colectiva e da enorme atitude que todos os jogadores demonstraram, viemos de Oliveira de Azemeís com zero pontos. Admito que do ponto vista motivacional este resultado possa ter reforçado ou até mesmo aumentado, a auto-estima do grupo. Mas não chega. Temos que fazer mais. Por isso, o caminho é ganhar o quanto antes.

O Hóquei em Patins em Portugal não tem mediatismo nenhum pelos meios de comunicação, como vê esta situação?
Triste e preocupado! Triste porque não compreendo que se trate tão mal o que é genuinamente português. Como é possível renegar a quem tanto fez pelo país? O Hóquei Patins faz parte da nossa cultura, tem uma tradição enorme na nossa sociedade e no entanto a nossa imprensa relativiza os êxitos e prefere enaltecer os fracassos recentes. Ou seja, quando ganhávamos, pouco se falava porque era habitual. Agora que perdemos mais vezes do que ganhamos, quando se fala (porque se fala muito pouco) é de uma forma acentuadamente negativa.
Preocupado porque não vejo também que dentro do próprio Hóquei exista uma abertura comunicacional mais consentânea com os tempos em que vivemos.
Culpados somos todos. Não adianta culpabilizar apenas a imprensa porque no Hóquei em Patins nacional, e até a nível internacional,  ainda existem mentalidades retrógadas, incapazes de devolver ao hóquei a notoriedade que lhe é merecida.

As novas regras tem marcado muitos jogos, qual e a sua opinião em relação a este assunto?
Já muito se falou disto. Está quase tudo dito. Umas contribuíram para a melhoria do ‘jogo’ outras nem por isso. Agora o que importa é jogar com a regras estipuladas e fazer do hóquei, ou de um jogo de hóquei se quiser, um verdadeiro espectáculo. Todos intervenientes têm essa responsabilidade. Assim todos saibam estar à altura das suas próprias exigências.

Este ano o campeonato esta mais competitivo, para si quais as equipas mais fortes na primeira divisão em Portugal?
Objectivamente, existem dois candidatos ao título. FC Porto e SL Benfica. Mais duas equipas que podem discutir esses lugares. Candelária e Oliveirense. Estou convicto que estes serão os 4 primeiros classificados do campeonato.
A partir daí vem aquilo a que chamo, o verdadeiro campeonato. Com planteis e orçamentos equilibrados. Onde todas as equipas, sem excepção, podem lutar e atingir os seus objectivos.

E as equipas menos fortes?
Do ponto vista teórico, as equipas que vieram da 2ª Divisão. Mas repito, do 4º lugar para baixo qualquer uma pode ficar em 5º…como descer de divisão!!

È coordenador das “Clínicas de Ferias” da Jet, acha que o nosso pais no futuro vai continuar a ter grandes nomes no Hóquei em Patins?
Espero e desejo que sim. As clínicas de férias ajudam mas não chegam. Não se podem substituir aos clubes na formação de atletas. E aí é que está o ponto fulcral da questão. É nos clubes que se tem de trabalhar e formar jogadores. E nesse aspecto, julgo eu, já estivemos bem melhor do que estamos. A crise financeira dos clubes, a crise de surgimento de novos talentos, a melhor formação dos técnicos mas com menos vocação (e jeito) para trabalhar com os mais jovens e o imediatismo dos resultados são, em minha opinião, alguns dos pontos negativos que impedem, que de uma forma natural e sistemática, surjam novos valores no hóquei em patins. É bom lembrar, que um bom jogador de juvenis, pode não vir a ser um bom jogador de seniores.

Como vê o trabalho da Federação de Patinagem em Portugal em prol do Hóquei em Patins?
Esforçado, reconheço-o, mas insuficiente. Aceito a carolice e a devoção por uma causa. Louvo até. Mas os tempos actuais não se compadecem com amadorismos.
Mas deixe-me dizer-lhe uma coisa. Estão enganados aqueles que julgam que a culpa está apenas na Federação. A questão é mais profunda e começa nos…clubes. São eles que escolhem as associações, que por sua vez, escolhem a o elenco federativo. Se os clubes funcionam mal…tudo começa mal.
De uma coisa a Federação é culpada e não se livra da sua quota-parte de responsabilidades para o actual estado da modalidade. A asfixia financeira dos clubes. Só para dar alguns exemplos, falo da abolição da Lei de Transferências e do pagamento absurdo, desproporcional até, que os clubes têm de fazer à Federação para a organização dos jogos que eles próprios promovem e organizam. Mas como referi atrás, quem é que aprovou estas medidas? Não terão sido os próprios clubes? A culpa nunca morre solteira. É urgente rever estas e outras medidas.

Qual é a sua maior referência no Hóquei em Patins?
Todos os jogadores que ao longo destes 17 anos tive o prazer de conviver e de trabalhar. Sem demagogias. Esses são, as minhas grandes referências enquanto treinador.
Mas como sei que estas perguntas pretendem sempre uma resposta com nomes… Digo~lhe dois. Carlos Dantas como treinador e Paulo Almeida como jogador. O Dantas é uma referência para mim. O melhor treinador português e um dos melhores do mundo. O Paulo Almeida foi o jogador mais completo que tive oportunidade de ver jogar. Para além de grande jogador deve ser tido como um enorme exemplo a seguir pelos mais jovens. Não basta ser grande jogador. È mais importante, ser-se um grande atleta. E disso, o Paulo é um grande exemplo. Sem dúvida.

Se tivesse que escolher um cindo ideal com jogadores portugueses, quais seriam os escolhidos?
De sempre e dos que vi jogar…Ramalhete, Paulo Almeida, Chana, Vítor Hugo e Livramento

Para terminar, quer deixar uma mensagem a todos aqueles que gostam desta modalidade?
Uma frase que, para aqueles que me conhecem, sabem que a digo muitas vezes. Para o melhor e para o pior. Vivó Hóquei em patins!

O "Best Hóquei" agradece ao Pedro Nunes a entrevista cedida e deseja as maiores felicidades para o resto da sua carreira.

3 comentários:

Anónimo disse...

Exelente entrevista de Pedro Nunes.
Quero aqui deixar um destemunho,Alem de ter sido um dos melhores jog Portugueses de todos os tempos,é uma pessoa extraórdinaria.Falo Do Grande PAULO ALMEIDA.

Anónimo disse...

Continuo sem perceber a atitude destes homens. Com tanta experiencia de hoquei,continua a acreditar em milagres, ou, então, continua a achar que os rapazes que andam de sitck na mão são uma cambada de bojessos que ano após ano, clube após clube,vivem de promessas e de ordenados por pagar.
O treinador que lá estava foi embora porquê? Deve ser porque só gosta de jogar na 2ª divisão!!!
Valha-nos Santa Engracia. Não tarda nada está a dizer do Cascais o que agora dis do PA. Amigo, não há caroço, e você nem pensse que a rapaziada vai dar o corpo ao manifesto apenas porque você os manda trabalhar. Diga ao seu Presidente que os parolos já acabaram por estas bandas. Fartos de agiotas estamos nós. Quem não pode não se estabelece.

Anónimo disse...

Gostei da entrevista, pois conheci o Pedro Nunes e tive o previlégio de falar de muitas coisas com ele acerca de hóquei, acho que ele merece muito o respeito de todos , ele é um entendido em hóquei patins a 100%.

Força Pedro e um Grande abraço.

Paulo Lopes